Sustentabilidade em sistemas rurais, como quantificar - Por Nathália Trevisan e José Carlos Alves Pinto
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Sustentabilidade em sistemas rurais, como quantificar.

Sustentabilidade, o conceito vem sendo amplamente utilizado nos meios de comunicações e por empresas que buscam responsabilidade socioambiental. Quando nos referimos à sustentabilidade, estamos falando do equilíbrio nas explorações de recursos naturais, garantindo a preservação e manutenção dos mesmos, juntamente com a responsabilidade social, de como suas atitudes impactam a comunidade, sem deixar de lado os ganhos econômicos. Portanto, a sustentabilidade é avaliada nas três dimensões: econômico, social e ambiental.

Para mensurar a sustentabilidade pode-se usar indicadores de cada aspecto separadamente e de forma integrada, o que tem sido um desafio desde as primeiras discussões a respeito do conceito em 1972, em Estolcomo na Suécia, na primeira conferência das Nações Unidas (ONU) para o Meio Ambiente e Desenvolvimento. Os indicadores de sustentabilidade são ferramentas que mostram o estado de cada aspecto, providos de fontes de dados diversos como medidas de qualidade ambiental em compartimentos como água, solo e ar; índices de bem-estar social e expectativa de vida; PIB per capita; dentre outras métricas que são variáveis com o objeto de estudo.

Uma das técnicas mais conhecidas de gestão ambiental é a Análise de Ciclo de Vida (ACV) que identifica e analisa os impactos ambientais decorrentes de todos os processos relacionados a um determinado produto, desde a sua produção até a sua destinação final. Essa é uma análise eficiente para apontar problemas e possíveis aprimoramentos para gestão ambiental, além de ser regida pela normativa ISO 14040. Porém a ACV tem foco nos impactos ambientais, não retratando com veracidade as condições de sustentabilidade do processo visto que os aspectos sociais e econômicos são menos relevantes na análise, exigindo outros estudos complementares.

Dada a diversidade dos dados que podem ser usados em uma análise de sustentabilidade, fica cada vez mais evidente a necessidade de padronização e a escolha de um método sistêmico como referência. Neste sentido, a Embrapa Meio Ambiente tem desenvolvido, desde o início dos anos 2000, metodologias para quantificar a sustentabilidade em sistemas agropecuários, entre eles se destacam o AMBITEC-AGRO, o APOIA-NovoRural e a análise de eMergia.

A avaliação do impacto ambiental da inovação tecnológica agropecuária (AMBITEC-AGRO), proposta por Rodrigues, Campanhola e Kitamura (2003)¹ é composta por 36 componentes, organizados em 7 indicadores, sendo eles: eficiência tecnológica, qualidade ambiental, respeito ao consumidor, trabalho/emprego, renda, saúde e gestão e administração. O método é de fácil aplicação e a matriz pode ser respondida apenas com acesso à propriedade e entrevista com o responsável. O AMBITEC-AGRO tem sido aplicado pela própria instituição anualmente a fim de acompanhar a sustentabilidade de fazendas em todo o território nacional, avaliações de sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) e até na avaliação de projetos de pesquisa e desenvolvimento.

A Avaliação Ponderada de Impacto Ambiental de Atividades do Novo Rural (APOIA-NovoRural) é dividida em 5 dimensões: ecologia da paisagem, qualidade dos compartimentos ambientais, valores socioculturais, valores econômicos e gestão e administração, com 62 indicadores (RODRIGUES; CAMPANHOLA, 2003)². De caráter mais técnico, a aplicação da matriz de ponderação do APOIA-NovoRural exige análises laboratoriais e in loco para averiguar a qualidade dos compartimentos ambientais. Há trabalhos publicados com a aplicação do método em diversos setores agrícolas como produção de coco, leite, café, frutíferas e pecuária.

Os estudos de análise de eMergia, método mais sofisticado entre os apresentados, consiste no cálculo da energia acumulada envolvida nos processos de produção, com a conversão dos fluxos de energia e material em unidade de energia solar, joules de energia solar equivalente (sej). Como resultado temos a “assinatura” eMergética da produção ou do produto, contabilizada ao longo do processo produtivo, e que contabiliza os fluxos eMergéticos dos recursos naturais e econômicos dentro do sistema de produção agropecuário (autóctone) e dos fluxos de recursos advindos de fora dele (alóctone ou importados). Usando-se dessa técnica, as contribuições tanto naturais quanto econômicas requeridas para a produção podem ser quantificadas e comparadas (BARROS; RODRIGUES; MARTINS, 2003)³.

Vale ressaltar que ambos os métodos possuem muitos trabalhos divulgados e foram aplicados em tipos diversos de negócios agropecuários. Propõe-se utilizar os métodos de forma complementar, o AMBITEC-AGRO para uma avaliação preliminar (diagnóstico), posteriormente o APOIA-NovoRural a fim de quantificar a sustentabilidade e por último uma análise de eMergia que possibilita a comparação com outros sistemas.

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Referências:

¹ RODRIGUES, G.S.; CAMPANHOLA, C.; KITAMURA, P.C. Avaliação de Impacto Ambiental da Inovação Tecnológica Agropecuária: AMBITEC-AGRO. Jaguariúna/SP: Embrapa Meio Ambiente, documentos 34. 2003. 95p.

² RODRIGUES, G.S.; CAMPANHOLA, C. Sistema integrado de avaliação de impacto ambiental aplicado a atividades do Novo Rural. Pesq. agropec. bras., Brasília, v. 38, n. 4, p. 445-451, abr. 2003.

³ BARROS, I.; RODRIGUES, G.S.; MARTINS, C.R. Desempenho ambiental da produção de coco verde no Norte e Nordeste do Brasil. In: CINTRA, F.L.D; FONTES, H.R. BARROS, I.; TEODORO, A.V (Ed). Seminário de intensificação ecológica da fruticultura tropical, n.4. 2016. Brasília/DF: Embrapa. p. 227-336.

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